quarta-feira, 26 de julho de 2006

O Recipiendário


O mago dispõe de uma força que conhece, o feiticeiro procura abusar do que ignora. O mago é soberano pontífice da natureza, o feiticeiro não passa de um profanador. O feiticeiro é para o mago o que o supersticioso e o fanático são para o homem verdadeiramente religioso.

Antes de ir mais longe, definamos claramente a magia. A magia é a ciência tradicional dos segredos da natureza, que nos vem dos magos. Por meio desta ciência, o adepto se acha investido de uma espécie de onipotência relativa e pode agir de modo que ultrapassa a capacidade comum dos homens.

Saber, ousar, querer, calar - eis os quatros verbos do mago, que estão escritos nas quatro formas simbólicas da esfinge. Estes quatros verbos podem combinar-se mutuamente de quatro modos e se explicam quatro vezes uns pelos outros.

(...)

Aprender a vencer-se é, pois, aprender a viver, e as austeridades do estoicismo não eram um vã ostentação de liberdade! Ceder às forças da natureza é seguir a corrente da vida coletiva, é ser escravo das causas segundas. Resistir à natureza e dominá-la é fazer para si uma vida pessoal e imperecível, é libertar-se das vicissitudes da vida e da morte. Todo homem que está pronto a morrer ao invés de abjurar a verdade e a justiça, é verdadeiramente vivente, porque é imortal na sua alma.

A inteligência e a vontade têm por auxiliar e por instrumento uma faculdade muito pouco conhecida e cuja onipotência pertence exclusivamente ao domínio da magia: quero falar da imaginação, que os cabalistas chamam o "diáfano" ou o "translúcido". Efetivamente, a imaginação é como o olho da alma, e é nela que as formas se desenham e se conservam, é por ela que vemos os reflexos do mundo invisível, ela é o espelho das visões e o aparelho da vida mágica: é por ela que curamos doenças, que influímos sobre as estações, que afastamos a morte dos vivos e ressucitamos os mortos, porque é ela que exalta a vontade e que lhe dá domínio sobre o agente universal.

A imaginação é o instrumento da "adaptção do verbo".

A imaginação aplicada à razão é o gênio.

A razão é una, como o gênio é uno na multiplicidade das suas obras.

(...)



Trechos do Capítulo 1, O Recipiendário, do livro Dogma e Ritual de Alta Magia, escrito por Eliphas Levi

Um comentário:

Unknown disse...

Saber de sua existência me foi um presente... Vim procurar o que nunca voltou e te vejo a caminho de voltar ao Uno.