segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Sutilezas do Cotidiano


É minha rotina, já faz um tempo, jantar no bandejão de minha universidade antes de voltar para casa. Como de costume, vejo o cardápio [apesar de sempre saber que servem sopa (desculpe-me pela aliteração :D)], lavo as mãos [por questão de higiene] e depois adentro a fila. Após uma breve espera, chega a minha vez de tomar a bandeja, os talheres e, por conseguinte, a sobremesa. A sobremesa era doce de banana. Dizem que é muito saborosa, mas seu aspecto é bastante repugnante, e eu tenho problemas com certos tipos de alimentos [talvez por isso eu seja um pouco magro =P].

Rejeitei a sobremesa e segui à próxima etapa. Enquanto a mulher colocava as duas conchas de sopa que me é de direito, percebi que havia outro tipo de sobremesa numa bancada atrás [Cremogema! Oba! :D]. Prontamente pedi a servente se ela não poderia pegá-la para mim. Ela me atendeu! Fiquei feliz, mas só por um breve momento.

Toda minha atenção estava voltada à sobremesa. Quando eu estava colocando-a no espaço reservado na bandeja, outra servente [a do arroz] tascou arroz por cima da sopa. Uma tragédia! Ela ainda me perguntou se eu queria mais, fui cortez e disse não com um sorriso bem amarelo. A situação se invertera. Eu não queria comer a sobremesa devida sua aparência, mas agora tinha de engolir sopa com arroz [algo inédito para mim].

Sentei-me à mesa. Olhei com asco a bandeja a minha frente, pois geralmente eu tenho ânsia de vômito a determinadas 'misturas' de comidas. Passei alguns segundos deprimido até ser, então, abençoado com o espírito hermético da "Nova Schin". Ele baixou em meu corpo e disse: "Experimenta! Experimenta!". Não tive escolha. Preparei-me, numa das mãos a colher com 'soparroz'; na outra, o suco para me ajudar caso não conseguisse engolir a gororoba.

E o resultado: Sucesso! Percebi que a ânsia de vômito que tanto me atormentara quando criança havia se atenuado. Consegui comer toda a comida, embora eu ainda me sentisse um tanto desconfortável por mastigá-la. Refleti durante um bom tempo toda cena ocorrida. Pude ver que certos medos, sejam ocasionados por desastres pretéritos ou um por uma simples irracionalidade psíquica, podem ser superados. Na verdade, eles serão superados em alguma etapa de nossas vidas, e se não for nessa, será n'outra ou n'outra ou n'outra... ;D

E a conclusão da minha reflexão? Sabe, parece-me que existe um agente místico que sempre nos põem à prova. Nesse dia eu pude ‘sentir’ suas gargalhadas, gargalhadas de um verdadeiro traquinas. Ele me pregou uma peça. Ele me obrigou a me superar...


Escrito por Leonard :::

terça-feira, 17 de abril de 2007

Cena 02: Corrente


Toda vez que sento-me aqui para apreciar a paisagem desta janela, uma estranha força paira sobre minha cabeça. Perece-me impossível resisti-la, então sucumbo às suas ordens. Deixo de ser homem, para me transformar numa besta. Fico ali acorrentado pelos meus próprios intintos.

Tu já pensastes em nunca mais voltar àquela janela?

Sim...

(...)

A quem eu quero enganar? Não é a janela, não! Eu a uso apenas como pretexto para justificar as minhas fraquezas, que me acorrentam e que me sufocam. Sou apenas um fantoche nas mãos de uma criança desleixada. Será que mereço melhor sorte?

Nenhum esforço que a vida lhe impõem é forte demais que os seus braços não a aguentem.


Escrito por Leonard :::

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Cena 01: Espelho


Existem dois espelhos em casa. Um sempre diz que estou bonito; o outro, que estou feio. Depois que percebi isso comecei a chamá-los somente de "Bonito" e de "Feio".

Excêntrico!

Na verdade, toda vez que olho o "Bonito" eu consigo ver um brilho em meus olhos. Isso me faz recordar a imagem de um grande amigo bem ali em minha frente, que há muito tempo eu havia esquecido... Às vezes penso que seja apenas um reflexo de tudo que tenho de bom; das minhas virtudes.

(...)

Mas... Quando olho o "Feio", não vejo brilho algum... Somente um reflexo de um corpo sem vida, semelhante a de uma besta. Não gosto de olhá-lo. Ele sempre mostra meus defeitos. Gosto mesmo é de ver o espelho "Bonito".

Tu precisas mesmo é de uma boa dose de whiskey!

Beber não fará com que as coisas mudem. Quando eu voltar o espelho estará lá, como todas as manhãs, ele estará lá. Não importa que eu o mude de lugar, ele ainda estará lá.


Escrito por Leonard :::